moda 365 dias...
Chegando de viagem, e aí as perguntas se acumulam, mas uma para mim é recorrente: qual a tendência da moda?
Houve um tempo, anos 90, que eu viajava muito em busca de novidades, de 4 em 4 meses, Nova York íamos nós. Íamos por que sempre arranjava uma companheira, da moda ou fora dela, ou o meu companheiro de vida me acompanhava quando podia.
A viagem era visual, as tendências eram registradas em fotos, em protótipos trazidos e desmanchados e esmiuçados para elucidar acabamentos incríveis, que traziam a qualidade na peça. De olho no shape da estação, atenta às cores, o que pegou nas ruas, o que não vingou...Tudo super anotado, sem os recursos de hoje, onde tudo pode ser registrado no toque das mãos, eram os anos 90!
Enfim, minha chegada era esperada pela equipe, o que seria a novidade? Criar a partir da pesquisa, modelar e as pilotos ficando prontas, sempre 6 meses antes de lançar. O processo era antecipado, segurava a tendência, para que ela debutasse só e apenas na estação, segredo de Estado.
As viagens foram se modificando, a internet globalizou e banalizou todo o trabalho que se fazia e que dependia de grande investimento. O que aparece no inverno da Europa como tendência, é adaptada para nosso verão e já acontece, os segredos foram escancarados.
A viagem ainda é importante como fonte inspiradora, histórias, lugares, passeios se transformam na criação ,mas as necessidades do dia a dia são outras, o conforto é importante, a história de cada peça passa a fazer parte do consumidor. O consumo consciente se faz presente, a origem do que se está comprando é importante. Como são as condições de trabalho? Sustentabilidade? Como essas missivas são tratadas? Tento sempre transparecer nosso trabalho produtivo, deixando claro o respeito por cada um da equipe e da finalização dos descartáveis, como retalhos.
Hoje como mulher madura, viso trazer na coleção o que nos favorece e nos traz bem estar, sem esquecer da elegância. A viagem não perdeu o visual, mas o sentir entra como fundamental, alimenta a criatividade das lembranças, os detalhes são encorporados nas peças, e de repente a coleção vai fluindo. A urgência perde a necessidade, tudo pode vir no seu tempo, aquela ânsia de ter a coleção completa acabou, vamos fazendo conforme a demanda exige, deixando espaço para o que surgir, espaço para o completar lento que vivenciamos e ansiamos juntas.
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