A merenda desejada.
Minha vida escolar sempre foi muito disciplinada. Na cola dos meus irmãos. mesmas escolas, algumas vezes os mesmos professores, apesar da diferença de idade. Os caminhos estavam traçados era só percorrer.
O grupo escolar onde cursei o primário era pertinho de casa, íamos a pé. Normalmente era minha mãe que me levava e buscava, meus irmãos maiores já tinham seus compromissos e meu pai trabalhava fora.
Eu era muito magrinha, não gostava de comer, aliás lembro de não gostar nada dos horários de almoço e jantar, pois era obrigada a comer. Não gostava de nada além do cachorro quente do carrinho que ficava na saída da escola. Minha mãe sempre em desespero com a minha alimentação, combinava com o moço do carrinho passar em casa. Para sossego dela eu comia o sanduíche. Eu só gostava do cachorro quente do carrinho, não adiantava fazer em casa.
Diante de tanta inapetência, no recreio da escola, era servido um leite e eu ficava deslumbrada com a beleza da servente, eram assim chamadas as assistentes da escola, servindo o leite. Todos os dias no banho , na volta da escola, eu brincava na banheira com jarrinha e copos servindo as crianças, o cheiro, podia sentir até na minha brincadeira, era bom e um dia teria coragem de experimentar...
O dia chegou, eu precisava tomar aquele leite, e o que necessitava fazer era levar um copo, e tomar tudo!
Minha mãe alertou, filha, você nem gosta de leite, e aí vai ter que deixar o copo vazio, beber tudo, acho melhor não. Eu vou levar meu copinho bem pequeno, aquele que tem meu nome gravado, por favor , mãe, eu quero. Tá bom, mas depois não adianta reclamar, toma tudo.
Fui toda feliz com o meu copinho, afinal quase todas as crianças tomavam, devia ser uma delícia.
Sinal bateu, RECREIO. Copinho na mesa , cheia de orgulho esperando dona Isolina, era o nome dela, passar e me servir. Leitinho no copo, já não gostei do cheiro, que me encantou outrora. A consistência também não era a que que eu imaginava. Mas vamos lá ,me restava beber o primeiro e o último gole. Não deu, não vai dar , aquela aflição, não posso levantar, não posso ir no banheiro jogar na pia, o que fazer?!?
Coloquei o copo com leite debaixo da carteira, na saída dou um jeito. Passei todo tempo depois do recreio pensando no que fazer, e só tinha uma coisa a fazer, colocar o copo na mala bem direitinho e ir andando com cuidado para não derrubar no material. Minha mala que era de couro.
Assim que minha mãe me viu puxou a mala da minha mão contra minha vontade, e desespero. MÃE, o copo de leite está na mala, vai sujar meus cadernos. Mas o que você esperava minha filha?
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