Por anos pensei que o julho era só meu.
O mês do meu aniversário. férias, sem aula, morango no bolo, fruta da época, parecia tudo colaborar para a comemoração.
Na infância, muito frio, muito frio mesmo, não esse friozinho de agora, lembro dos casaquinhos, com golinha de pele de coelho que usava, imperfeitos para nosso clima de hoje e para nossa consciência ambiental.
Claro, que alguma coisa errada nessa perfeição do julho tinha que ter. Cadê as crianças para o parabéns? Não tinha. Todas de férias. Julho após julho, sempre sem crianças, primos viajando e nada de correria e brincadeiras. A comunicação na ponta dos dedos de hoje, não existia. O único telefone da rua que eu morava era o da minha casa, o que quer dizer que e minha casa era o ponto dos recados. Os vizinhos viam nas horas mais inconvenientes possíveis,, almoço, jantar, e meu pai todo responsável nunca deixava que reclamássemos ou deixássemos de dar o recado na hora.
Os julhos foram se multiplicando nos anos, a ideia de propriedade privada do meu julho ruiu, como também toda expectativa de um aniversário perfeito, mas minha simpatia pelo julho, que intimamente ainda chamo de meu, permaneceu.
Aos 65 julhos anos, na iminência de mais um porvir, quero meu morango no bolo, do jeito que sempre foi, pois morango e julho se completam com gosto de felicidade.
Sou de julho, sou de câncer. Meu signo recorre sempre aos sabores passados, me faz reviver cada julho do aniversário.
Conceição Bondioli
domingo, 6 de março de 2022 às 20:54